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13/03/2010

RESPIRANDO A ESTESIA DE BERTOLT BRECH


SE FÔSSEMOS INFINITOS


Se fôssemos infinitos
Tudo mudaria.
Como somos finitos
Muito permanece



OS QUE LUTAM

Há homens que lutam um dia e são bons.

há outros que lutam um ano e são melhores,

há os que lutam muitos anos e são muito bons.

Mas há os que lutam toda a vida e estes são imprescindíveis.




NADA É IMPOSSÍVEL MUDAR

Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente:
não aceiteis o que é de hábito como coisa natural,
pois em tempo de desordem sangrenta,
de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada,
nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar.




QUEM NÃO SABE DE AJUDA


Como pode a voz que vem das casas
Ser a da justiça
Se os pátios estão desabrigados?
Como pode não ser um embusteiro aquele que
Ensina os famintos outras coisas
Que não a maneira de abolir a fome?
Quem não dá o pão ao faminto
Quer a violência
Quem na canoa não tem
Lugar para os que se afogam
Não tem compaixão.
Quem não sabe de ajuda
Que cale
.


AOS QUE VIEREM DEPOIS DE NÓS

Realmente, vivemos muito sombrios!
A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar.

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.

(tradução de Manuel Bandeira)
Bertolt Brecht Poemas. 1913-1956




Eu gosto muito desses poemas de Bertolt Brech (médico alemão,1898-1956), ele escrevia propondo a desalienação do homem, de uma forma criativa que faz o ser humano pensar. Fazia um teatro para reflexão, divertimento e não se limitava a explicar o mundo mas tinha propostas para modificá-lo. Ele escreve poemas rebelando-se contra os "falsos padrões" da vida burguesa após a primeira guerra. Ele vivencia a tragédia da segunda guerra e tem outros poemas muito interessantes, que são as 'Sátiras aos Alemães', com uma linguagem atualissima, principalmente para um país como o Brasil, que postarei mais tarde, nos próximos capítulos, aguardem, risos.


Estou igual a Rede Globo, convidando vocês a esperar pelos próximos capítulos, risos. Brincadeirinha para alegrar a vida. Segue um cheirinho de alfazema.




Fonte:

1. Bertolt Brecht. Poemas 1913-1956. Tradutor: Paulo César Souza. Editora Brasiliense.São Paulo,1986.

2. Fernando Peixoto. Brecht: Vida e Obra. Editora Paz e Terra S.A, 4ª edição. Rio de Janeiro, 1991.

2. - Antologia Poética: http://www.culturabrasil.pro.br/brechtantologia.htm



16 comentários:

Ana Cristina Cattete Quevedo disse...

Norma, esse teu blog é um aprendizado, um ler e reler que não acaba mais.
Peuei essa postagem e imprimi rs
Colo tudo no meu armário, e leio pela manhã.
Não é boa ideia?

Beijo

=)

Pena disse...

Oh, Extraordinária Amiga:
Um Post perfeito e mágico de talento bem ao seu admirável génio.
Profundo. Que abarca existências preciosas.
VOCÊ encanta e enternece.
Adorei. Tem uma cultura que transcende.
Parabéns sinceros.
É delicioso, Lê-la. Uma honra.
Beijinhos amigos de respeito e estima gigantes.
Sempre a lê-la pela beleza que cintila sempre aqui.
Repleto de pasmo e admiração que já são habituais aqui.

pena

Linda.
Bem-Haja, poetisa de sonho.

Anônimo disse...

Amiga, vc me fez refletir. Esses textos são maravilhosos!
Bjos na alma!

ps: Recebeu meu e-mail?

Wanderley Elian Lima disse...

Olá Norma
Brecht nos deixou um incrível acervo de belos texto e poemas. Comentá-lo é quase impossível. Parabéns pela escolha.
Beijos

Mel Redi disse...

PARABÉNS, querida Norma, por nos trazer tão significativos ensinamentos! Realmente , Brecht ainda é um grande referencial! Grande abraço, Maria Emília Redi

angela disse...

Gosto muito dos textos e peças dele.
beijos

IVANCEZAR disse...

Um post verdadeiramente extraordinário - uma homengaem ao fim de semana dos blogueiros . Beijo amiga !

Vida*** disse...

Sempre com um conteúdo de alto nível!! Realmente um presente para nós, que apreciamos a boa leitura. Ler e reler textos que transcendem em cultura e poesia. Amor e Amizade. Ja me tornei leitora assídua de suas páginas. Obrigada,pelo bélo trabalho de pesquisa e aprendizagens bastante significativos que nos passa ao longo de cada texto. Abços de Luz.

Sônia Silvino (CRAZY ABOUT BLOGS) disse...

Teus posts são simplesmente divinos: sem nenhum exagero.
Por isso, escolhi esse blog para ser destaque nesta semana no meu blog THE BEST BLOGS (http://soniasilvinothebestblogs.blogspot,com).
Passe lá e confira!
Bjkas, minha amiga! Muuuuitos!

Jorge disse...

Norma,
grande poesia de Brecht.
Sua sensibilidade com o homem é por demais atual.

beijo de luz,
Jorge

Anônimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anônimo disse...

Olá Norma,
Belo post, Brecht tem um acervo incrível, textos extraordinários e sempre atuais. A gente nem tem o que dizer. Parabéns uma escolha inteligente e oportuna.
Beijos

Elaine Regina disse...

Norma, quero que receba das minhas mãos um selo que recebi hoje! Está la na Fênix! Eu sinto que você é uma das pessoas que o merecem, sim!

Bj!!

Anônimo disse...

Oi Norma, entrego yakult geladinho sim..rs Obrigado por ter passado pelo meu cantinho
bjs

Marcos Takata disse...

Namaste Norminha,
realmente são belos poemas de Brecht, e as sáritas tem uma critíca acirrada, com a cara desse governo brasileiro.
Bem lembrado.
Bihusss

Amélia Ribeiro disse...

Olá Amiga Norma!

E eu adoro o que tu escreves minha linda!

Um beijo e bom domingo!

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