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09/12/2009

AMOR É FOGO QUE ARDE SEM SE VER



Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
se tão contrário a si é o mesmo Amor?
Luiz Vaz de Camões


Luiz Vaz de Camões, é um primor de todos os primores, ele leva ao mundo da realidade e fantasia com riquezas impar. E Bocage assim o retratava:

"Camões, grande Camões, quão semelhante
Camões, grande Camões, quão semelhante
Acho teu fado ao meu, quando os cotejo!
Igual causa nos fez, perdendo o Tejo,
Arrostar co'o sacrílego gigante.
Como tu, junto ao Ganges sussurrante,
Da penúria cruel no horror me vejo.
Como tu, gostos vãos, que em vão desejo,
Também carpindo estou, saudoso amante.
Ludíbrio, como tu, da Sorte dura
Meu fim demando ao Céu, pela certeza
De que só terei paz na sepultura.
Modelo meu tu és, mas . . . oh, tristeza! . . .
Se te imito nos transes da Ventura,
Não te imito nos dons da Natureza."


Numa prova de redação num vestibular da Universidade baiana foi cobrado dos candidatos a interpretação do trecho desse famoso poema de Camões. Uma vestibulanda de 16 anos deu a sua interpretação:


"Ah, Camões!, se vivesses hoje em dia,
tomavas uns antipiréticos,
uns quantos analgésicos
e Prozac para a depressão.
Compravas um computador,
consultavas a Internet
e descobririas que essas dores que sentias,
esses calores que te abrasavam,
essas mudanças de humor repentinas,
esses desatinos sem nexo,
não eram feridas de amor,
mas somente falta de sexo!"


A candidata obteve nota 10 pela originalidade, pela estruturação dos versos, pelas rimas insinuantes. Pela primeira vez ao longo de mais de 500 anos, alguém desconfiou que o problema de Camões era apenas falta de sexo. É da natureza criativa dos poetas, criar tempestades em copos dágua. Se não o fossem, não haveria o que se encantar em versos. Se é falta de sexo, ou ausência de nexo, só se poderia saber, à época, nunca descobriremos.

Não indico o nome da candidata que escreveu esses versos, porque recebi um email desse jeito, por isso se alguém souber, colocarei os créditos aqui no blog. Eu sei que todos conhecem esse poema, mas acho tão lindo e gostaria de deixar guardadinho aqui no blog, viu...
Abraços

4 comentários:

Marcos Takata disse...

Norminha Namaste,
Estava bisbilhotanto seu blog, encontrei esse poema de Camões e a interpretação dessa estudante.
Gostei muito, e dei muitas risadas, porque é a pura verdade. Se Camões estivesse com essa internet, nesse mundo de hoje.
Bijus

Marcos Takata disse...

Eu estava procurando um poema de Fernando Pessoa, será que você? Sobre o amor.
Bijus

Norma Villares disse...

Marcos,
Que bom que gosta de Camões. Eu também gosto muito.
Qual é a poesia que você quer?
Grande abraço

Viveka disse...

Lindo!
Bj

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