Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros). Sinto crenças que não tenho. Elevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.
Fernando Pessoa, in 'Para a Explicação da Heteronímia'
O que tenho de substancial, se com o passar do tempo detecto acúmulo de adjetivos firmando uma vida distante da essência original substantiva. Em quantos pedaços fui retalhada com o bisturi da fragmentação, sem costuras e sem remendos, que a sociedade impunha num extenso catatau de etiqueta e, sutil tom baixo de hipocrisia, denominado 'verniz'. Ah! A plúrima diversidade de mim mesma, postiça e baixo em todos os sentidos.
Se eu soubesse, eu tomaria o rumo em direção ao auto-conhecimento há muito tempo atrás, desde a gestação e, na embriogenese mudaria os filamentos das sinapse cerebrais para aprender a 'ser' sem perdas na interpretação da vida de fragmentação.
Navegaria em espaços aprendizes e lamberia o chão imitaria Várias 'personas' idealizados e insinceras, chorar em múltiplas página de um vida dos sentimentos contraditórios de inúmeros eus... inúmeros mundos que se fundem em um só.com msigificado.
Quando perco o endereço de mim mesma acabo me descontrolando
e sem costura. É do mais alto grau de sensibilidade que o extraordinário, e avantajado Fernando Pessoa tece a sua reflexão. Como ser sincero em algo se ao menos não temos essa realidade para com nós?
Somos exatamente o que o digníssimo disse:"uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço." e isso sintetiza a diversidade nos atos humanos e suas alternâncias como forma de aprendizado futuro.
Não podemos afirmar aquilo que não conhecemos,ou seja,isto a que compomos.
Sejamos ao menos consentâneos com esta realidade...difícil...Impossível?
Realmente, é impressionante como certos seres - e que SER este que nos escreve - são verdadeiros intérpretes da vida..das sensações...da multiplicidade.
Grande Fernando Pessoa!!!!!!!!!!!!
Oléeeeeeeeeeeeeee...
Abraços
Norma Lúcia
Somos exatamente o que o digníssimo disse:"uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço." e isso sintetiza a diversidade nos atos humanos e suas alternâncias como forma de aprendizado futuro.
Não podemos afirmar aquilo que não conhecemos,ou seja,isto a que compomos.
Sejamos ao menos consentâneos com esta realidade...difícil...Impossível?