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16/05/2014

QUANDO FALO COM SINCERIDADE NÃO SEI COM QUE SINCERIDADE FALO...

Não sei quem sou, que alma tenho.

Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros). Sinto crenças que não tenho. Elevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me ponta traições de alma a um caráter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho. Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas. Como o panteísta se sente árvore [?] e até a flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente de cada [?], por uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço.

Fernando Pessoa, in 'Para a Explicação da Heteronímia'

O que tenho de substancial, se com o passar do tempo detecto acúmulo de adjetivos firmando uma vida distante da essência original substantiva. Em quantos pedaços fui retalhada com o bisturi da fragmentação, sem costuras e sem remendos, que a sociedade impunha num extenso catatau de etiqueta e, sutil tom baixo de hipocrisia, denominado 'verniz'. Ah! A plúrima diversidade de mim mesma, postiça e baixo em todos os sentidos.

Se eu soubesse, eu tomaria o rumo em direção ao auto-conhecimento há muito tempo atrás, desde a gestação e, na embriogenese mudaria os filamentos das sinapse cerebrais para aprender a 'ser' sem perdas na interpretação da vida de fragmentação.

Navegaria em espaços aprendizes e lamberia o chão imitaria Várias 'personas' idealizados e insinceras, chorar em múltiplas página de um vida dos sentimentos contraditórios de inúmeros eus... inúmeros mundos que se fundem em um só.com msigificado.

Quando perco o endereço de mim mesma acabo me descontrolando
e sem costura. É do mais alto grau de sensibilidade que o extraordinário, e avantajado Fernando Pessoa tece a sua reflexão. Como ser sincero em algo se ao menos não temos essa realidade para com nós?

Somos exatamente o que o digníssimo disse:"uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço." e isso sintetiza a diversidade nos atos humanos e suas alternâncias como forma de aprendizado futuro.
Não podemos afirmar aquilo que não conhecemos,ou seja,isto a que compomos.
Sejamos ao menos consentâneos com esta realidade...difícil...Impossível?

Realmente, é impressionante como certos seres - e que SER este que nos escreve - são verdadeiros intérpretes da vida..das sensações...da multiplicidade.


Grande Fernando Pessoa!!!!!!!!!!!!

Oléeeeeeeeeeeeeee...
Abraços

Norma Lúcia





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