Quase meia noite, acordei de um sonho do passado, ainda meio zonza feliz eu cantava... Se a minh'alma busca estradas, ando cá fechada em minha torre de marfim, meio isolada nesse mundo de carmim. E se carmim é feito de matéria com a seiva imaculada, cá estou eu nesse sonho do passado, vivendo a transição da meia idade, em que nada ou tudo é entendido nesse grande varal de roupas lavadas e que nem cabe em meu corpo que a muito tempo deixou de ser sarada. Paradoxal!
Estava em meus sonhos e devaneios, numa cachoeira cheia de corredeiras, junto a uma pedra lisa sentada, lava minhas roupas coloridas, cantando feliz entoava: Olé Mulher rendeira, olé mulher rendá. Tu me ensinas fazer rendas, que eu te ensino a namorar... Tu me ensinas fazer rendas, que eu te ensino a namorar...
E todas as roupas eram do passado, coloridas, brancas, lindas vestes para amar nos sonhos de adolescente tímida e encantada. As brancas estendidas no corador, para o sol ajudar a alvejar... As coloridas no varal para sol e o vento num lindo sopro ajudar a secar.
Ruminando em silêncio... Descendo da minha torre de marfim. Se as roupas eram antigas cabiam no corpo juvenil, mas, não cabem nesse corpo de agora. Foi-se embora a estrutura de outrora.. Varando muitas noites ruminando a vida em silêncio.
Estou entrando na melhor idade da sabedoria, creio nesse sonho estar vivendo um ritual de passagem, e assim eu me recebo no rio da minha existência, louvada pela natureza cantante: terra; água; vento; sol e ar.
Oh! Querida e alma na aureolada transição dessa passagem de luz. Beijo-te as mãos e louvo-te os pés que andaram pelas trilhas sonoras de desertos e oásis. Hoje, a única coisa que importa é a vida em silêncio. Devolvo a 'terra mãe' as imagens ilusorias do passado, roupas bem lavadas pela água da flexibilidade e bem secas pela luz do sol que ilumina todos os cantos sombrios, pelos ventos soprados vibro na suavidade e leveza. Hoje eu sou o que eu para vim ser quem sou. Hoje serei sempre quem fui no fio da existência.
— É para ti essa passagem, alma bendita, pois nem sou quem tu és... sou mais...
Colhendo instantes tão gentis e fugidios, louvo a mãe terra que partilhou com esses presentes, cósmicas dávidas que ajudam no feliz ritual de passagem... Sozinha como eu vim a terra, sem palavras para descrever beleza indizível. Mas, com a companhia sinfônica de simples músicas de um povo simplório e humilde, nas corredeiras da vida eu me ritualizei.
Ecos da alma ressoavam sem fio e sem navio no rio existencial. Despida das velhas roupagens que não cabem mais...
Eu sou bem vinda a nova idade com gratidão e plenitude. Estou aqui
3 comentários:
Norma
Os indios fazem miutos rituais de passagem. Acredito que perdemos esse caminho. Muito bem lembrado, estou entrando numa nova fase de vida e vou fazer meu ritual.Beijinhos
Karina
POis é Karina, esquecemos de fazer rituais de passagens, entramos nas fase desatentos.Grata
Beijinhos
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