Neste tempo de incongruência Clarice sinaliza...
Me dá sua mão e vamos passear...
Eis um pouco de Clarice Lispector...
Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. É a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.
Já que se há de escrever, que pelo menos não se esmaguem com palavras as entrelinhas.
Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
...estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda.
Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca.
Eu já começara a adivinhar que ele me escolhera para eu sofrer, às vezes adivinho. Mas, adivinhando mesmo, às vezes aceito: como se quem quer me fazer sofrer esteja precisando danadamente que eu sofra.
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
É tão difícil falar e dizer coisas que não podem ser ditas. É tão silencioso. Como traduzir o silêncio do encontro real entre nós dois? Dificílimo contar. Olhei pra você fixamente por instantes. Tais momentos são meus segredos. Houve o que se chama de comunhão perfeita. Eu chamo isto de estado agudo de felicidade.
"Eu te odeio", disse ela para um homem cujo crime único era o de não amá-la. "Eu te odeio", disse muito apressada. Mas não sabia sequer como se fazia. Como cavar na terra até encontrar a água negra, como abrir passagem na terra dura e chegar jamais a si mesma?
Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro.
Eu não sou tão triste assim, é que hoje eu estou cansada.
É preciso coragem. Uma coragem danada. Muita coragem é o que preciso. Sinto-me tão desamparada, preciso tanto de proteção... Porque parece que sou portadora de uma coisa tão pesada. Sei lá! Porque escrevo. Que fatalidade é esta?
Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.
Transparências de uma mulher que se desnudou sem medo.
Esta é a grande Clarice Lispector
16 comentários:
Como fã de Clarice Lispector, amei esta postagem!
beijo
Querida amiga.
Penso que o bonito do pensamento de Clarice, é esta capacidade de ter eco em nosso coração, ao falar do que é essência em nós.
Semana de alegrias para ti.
Norma,
Clarice é puro coração e emoção.
O que escreve fica marcado na alma de quem lê!!!
Norma, beijo, sempre!
É mesmo Jorge, um coração sensível atrai outros corações.
Sublimes abraços
É mesmo ALUISIO este ECO chega forte e toca a alma.
Sublimes abraços
Sonia, somos fãs.
Beijos no coração
Norma
te ofereço, com carinho, o selo "Este blog é uma maravilha!"
Um beijo!!!
Namaste Norminha,
Grande Clarice Lispector!
Ao desnudar-se sensibiliza nossa alma.
Bijus
Sempre Divina esta Clarice.
Grande abraço afetuoso
Amo a Clarice,ela mora no meu coração.
Beijo.
Eu adoro ler Clarice Lispector.
impossível não se deliciar..
Norma,
Adorei este post!
Quanto a levar textos do blog, faça como achar melhor. Para mim, uma honra só de vc vir me visitar.
Um beijo em tua linda alma,
Jorge
Muito obrigada a todos amigos pela visita e pelos comentários.
Que a Divina Luz abençoe todos vocês.
Sublimes abraços
Norminha,
Que postagem bonita, elegante.
Belíssima.
Abra
Muito obrigada Hugo, é muita gentileza sua.
Grande abraço
Meu Deus! Realmente ela transceveu o meu sentir!
Impressionante!É assim que me sinto agora, sem tirar uma vírgula!
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