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02/11/2009

INTERPRETANDO AS MULHERES....



Em companhia de alguns de seus jovens cavaleiros, entre eles sir Gawain, o rei Artur estava um dia caçando na floresta. Todos conheciam bem a região e não esperavam nenhum acontecimento miraculoso. No que o rei esporeou seu cavalo e se adiantou, distanciando-se deles um pouco, apareceu-lhe à frente, de súbito, um grande cervo. O rei o seguiu e, mal havia cavalgado meia milha, o abateu. Desmontou, atou o cavalo a uma árvore, sacou a faca de caça e começou a preparar a presa. Enquanto estava debruçado sobre ela, num pequeno trecho coberto de musgo, percebeu que estava sendo observado; ao erguer os olhos viu diante de si um cavaleiro bem armado, de aspecto ameaçador, "cheio de força e grande em poder".


"Sede bem-vindo, rei Artur!", disse o homenzarrão. "Afrontais-me há muitos anos, e por isso hei de vingar-me. Vossos dias de vida estão contados!". Assim ameaçado de morte imediata, o rei prontamente replicou, censurando, que pouca honra teria o cavaleiro com tal façanha. "Estais armado, e eu apenas vestido de verde, sem espada e sem lança". E indagou o nome de seu desafiante.


"Meu nome", disse o homem, "é Gromer Somer Joure". O nome nada significava para o rei. O argumento do soberano, no entanto, tocara num delicado ponto de honra cavalheiresca e o homenzarrão, protegido por sua armadura, viu-se forçado a ceder um pouco - não totalmente, mas um pouco. A condição imposta ao rei para permitir que se fosse constitui o tema e a trama deste grotesco romance.


Sir Gromer Somer Joure exigiu que sua indefesa vítima jurasse voltar àquele mesmo local no mesmo dia do ano seguinte, desarmado como agora, vestindo apenas seu traje verde de caçador, porém trazendo, para resgatar a vida, a resposta a este enigma: "O que é que uma mulher mais deseja no mundo?"


O rei deu sua palavra e retornou, muito abatido, à companhia dos cavaleiros. Seu sobrinho, sir Gawain, notou-lhe a melancolia do rosto e, chamando-o à parte, indagou-lhe o que acontecera. O rei contou-lhe o segredo. Cavalgando ligeiramente afastados dos demais, ambos deliberaram, e finalmente Gawain deu uma excelente sugestão:


"Deixai que preparem vosso cavalo para uma viagem por terras estranhas e a quem quer que encontreis, seja homem ou mulher, perguntai o que pensam do enigma. Cavalgarei em outra direção, inquirindo todos os homens e mulheres, a ver o que consigo; anotarei todas as respostas num livro."


Por um caminho o rei, Gawain por outro, perguntando a mulheres, a homens e a todos:


As mulheres, que é que elas mais querem?

Uns disseram: estar bem enfeitadas;

Outros: juras galantes - gostam delas;

Outros: que homem vigoroso as tome nos braços, beijando-as sem demora.

Alguns disseram isso, alguns aquilo,

Foram muitas as respostas a Gawain.

E tantas delas sir Gawain ouviu

Que, em extensão e engenho, deram livro;

À corte, no regresso,

De seu trazia o rei livro também,

Um do outro olhou todo o escrito:

"Isso não falhará", Gawain falou.

"Por Deus", lhe disse o rei, "temo ser pouco, um pouco mais quero buscar ainda".


Só faltava um mês. O rei, inquieto, apesar da quantidade de respostas recolhidas, esporeou o cavalo e se aventurou na floresta de Inglewood, encontrando ali a bruxa mais feia já vista por olhos humanos: rosto vermelho, nariz destilando muco, grande boca, dentes amarelos pendendo-lhe sobre o lábio, pescoço comprido e grosso e pesados seios dependurados. Levava às costas um alaúde e cavalgava um palafrém ricamente encilhado. Era uma visão inacreditável, a de tão horrenda criatura a cavalgar radiosa.


Vindo diretamente ter com o rei, saudou-o e avisou, sem rodeios, que nenhuma das respostas que ele e Gawain haviam obtido serviriam para nada. "Não vos ajude eu, e estareis morto", disse ela. "Concedei-me apenas uma coisa, senhor rei, e garantirei vossa vida; caso contrário, perdereis a cabeça". "Que quereis dizer, senhora?" - perguntou o monarca. "A que vos referis, dizendo que minha vida está em vossas mãos? Falai, e prometo-vos o que desejardes". "Pois bem", replicou a horrenda anciã, "assegurai-me que dar-me-eis em casamento um de vossos cavaleiros. Seu nome é sir Gawain. Proponho-vos um acordo: se vossa vida não for salva por minha resposta, meu desejo será vão; porém, se ela vos salvar, havereis de conceder-me ser a esposa de Gawain.


Decidi agora, e depressa, porque assim tem que ser, ou estareis morto". "Santa Maria!" exclamou o rei. "Não concederei autorização a sir Gawain para desposar-vos. Tal coisa diz respeito somente a ele". "Bem", replicou ela, "retornai agora ao castelo e tentai persuadir sir Gawain. Apesar de feia, sou alegre". "Oh, Deus!", exclamou ele, "que desgraça se abate sobre mim!".

O rei Artur retornou ao castelo e seu sobrinho Gawain respondeu-lhe cortesmente: "Possa eu morrer em vosso lugar!


Casar-me-ei com ela, ainda que seja um diabo tão feio como Belzebu - ou não serei vosso amigo". "Graças, Gawain", disse Artur, o rei, "de todos os cavaleiros que jamais encontrei, levais a palma".


Dona Ragnell era o nome da bruxa. Quando o rei Artur, voltando, fez-lhe a promessa, em seu nome e do sobrinho, ela respondeu: "Senhor, sabereis agora o que as mulheres desejam acima de tudo. Uma coisa habita-nos todas as fantasias, e a conhecereis: acima de qualquer coisa, desejamos ter soberania sobre o homem". Disse ainda ao rei que o gigantesco cavaleiro seria tomado pela ira ao ouvi-lo. "Maldirá aquela que vos ensinou, porque terá perdido seu trabalho".


O rei Artur galopou através de lama, pântano e charco para o encontro com sir Gromer Somer Joure; no momento em que chegou ao lugar combinado, deparou-se com o outro. "Adiantai-vos senhor rei", disse-lhe o desafiante armado, "vejamos qual será vossa resposta". O rei Artur estendeu-lhe os dois livros, na esperança de que alguma das respostas obtidas fosse suficiente, libertando-o e ao seu sobrinho do indesejável compromisso. Sir Gromer percorreu as respostas uma a uma.


"Não, não, senhor rei", disse ele, "sois um homem morto".


"Esperai, sir Gromer. Ainda tenho uma resposta". O outro se deteve para escutar. "Acima de tudo o mais", disse o rei, "as mulheres desejam a soberania - é o que lhes apraz, e o seu maior desejo".


"E a ela, que tal vos contou, sir Artur, suplico a Deus que possa vê-la arder em uma fogueira. É minha irmã, dona Ragnell, aquela velha bruxa; cubra-a Deus de vergonha, pois se não fosse por ela, ter-vos-ia subjugado... Que tenhais um bom dia!" O peculiar cavaleiro há muito abrigava rancor contra o rei Artur, que outrora o despojara de suas terras, concedendo-as, "com grande injustiça", a sir Gawain. Perdera-se agora sua oportunidade de vingança e foi-se, enfurecido, pois jamais teria novamente a sorte de encontrar seu inimigo desarmado.


O rei Artur voltou a cavalo para a planície, logo encontrando dona Ragnell. "Senhor rei", disse ela, "sinto-me feliz porque tudo correu bem, como vos disse que ocorreria. Agora, desde que vos salvei a vida, Gawain deve desposar-me. É um completo e gentil cavaleiro; casar-me-ei publicamente, antes de permitir-vos separá-lo de mim . Cavalgai à frente; seguir-vos-ei até a corte, rei Artur".


Muita vergonha causava ela ao rei; mas ao chegarem à corte, e todos se indagarem atônitos de onde teria vindo tamanha monstruosidade, o cavaleiro Gawain adiantou-se sem qualquer sinal de relutância e virilmente honrou a promessa de desposá-la.


"Deus seja louvado", dona Ragnell disse,


"Por vós quisera ser mulher formosa, por ser vossa vontade assim tão boa".


Todas as damas e cavaleiros da corte apiedavam-se de sir Gawain, aquelas chorando em suas câmaras, porque ele teria que se casar com uma criatura tão pavorosa e horrível. Tinha dois dentes como presas de javali, um de cada lado, de um palmo do comprimento, um apontando para cima e outro para baixo; a boca era enorme, cercada de horríveis cerdas. Tampouco se contentara com um casamento discreto e tranqüilo (tal fora o desejo da rainha), mas insistira em uma missa solene e num banquete no grande salão, a que todos comparecessem.


Durante a festa mastigou três capões, outras tantas aves e vários pratos de assados, estraçalhando-os com as longas presas e as unhas até só restarem os ossos.


Sir Kai, companheiro de Gawain, rapaz impetuoso e descortês, sacudiu a cabeça e disse: "Quem quer que beije essa dama, terá medo dos próprios beijos". E a noiva continuou a mastigar até a carne se acabar.


Nessa noite, no leito, a princípio sir Gawain não conseguiu se obrigar a voltar o rosto e encarar o focinho pouco apetitoso da noiva.


Após algum tempo, no entanto, ela rogou: "Ah, sir Gawain, já que nos casamos, demonstrai-me vossa cortesia na cama. Por direito, isso não me pode ser negado. Se eu fosse bela, não vos comportaríeis assim; não fazeis a mínima conta dos laços matrimoniais.


Em consideração a Artur, beijai-me, ao menos; peço que atendais ao meu pedido. Vamos, vejamos quão ardente podeis ser!"


O cavaleiro e leal sobrinho do rei reuniu cada pedacinho de coragem e gentileza. "Farei mais", disse, muito amável, "farei mais do que apenas beijar, por Deus!". E, ao se voltar, deparou com a mais formosa criatura que jamais vira.


Ela perguntou: "Qual é vosso desejo?"


"Oh, Deus!", exclamou ele, "quem sois?"


"Senhor, sou vossa esposa, certamente, por que sois tão indelicado?"


"Oh, senhora, mereço que me censureis; eu não sabia. Sois bela a meus olhos - apesar de terdes sido a mais feia criatura que meus olhos já viram. Ter-vos assim, senhora, muito me agrada!".


Tomou-a nos braços, beijou-a, e sentiram-se muito felizes.


"Senhor", avisou ela, "minha beleza não durará. Ter-me-eis assim, mas apenas durante metade do tempo. Esse é o problema: deveis escolher se me preferis bela à noite e horrenda durante o dia, diante dos olhos de todos, ou bela de dia e horrenda à noite".


"Oh, Deus, a escolha é difícil", replicou Gawain. "Ter-vos bela apenas à noite entristeceria meu coração, mas se decidir ter-vos bela durante o dia, dormirei em leito de espinhos. Quisera escolher o melhor, mas não faço idéia do que dizer.


Querida senhora, que seja como desejais; deixo a escolha em vossas mãos. Meu corpo, meus bens, meu coração e tudo o mais são vossos para que deles façais o que quiserdes; juro-o diante de Deus".


"Ah, dou graças, cortês cavaleiro!", exclamou a dama. "Abençoado sejais, entre todos os cavaleiros do mundo! Agora estou livre de meu encantamento, e ter-me-eis bela e atraente tanto de dia como à noite".


Então ela contou a seu deleitado esposo como sua madrasta (que Deus tenha piedade de sua alma!) a encantara com suas artes de magia negra, condenando-a a permanecer sob aquela forma até que o melhor cavaleiro da Inglaterra a desposasse e lhe concedesse a soberania sobre seu corpo e seus bens. "Assim fui deformada", disse ela. "E vós, cortês sir Gawain, concedestes-me, sem condições, a soberania. Beijai-me agora, senhor cavaleiro, eu vos suplico; alegrai-vos e regozijai-vos". E desfrutaram deleitosamente um do outro.


Já se passara o meio dia.


Disse o rei: "Senhores todos, vejamos

Se sir Gawain ainda vive.

Por sir Gawain ora temo

Não vá tê-lo morto a bruxa!,

Quisera sabê-lo já.

Vamos", disse Artur, o rei.

"Vejamos seu despertar

E como se houve de noite."

À câmara andaram juntos.

"Sir Gawain, de longo sono

Acordai!" - chamou o rei.

E Gawain: "Santa Maria! Permitido,

Sim, por certo, dormiria muito mais,

Pois bem feliz eu me sinto.

Aguardai, já abro a porta.

Para que em meu bem creiais,

Já quero, sim, levantar-me".

Sir Gawain cumpriu o dito; tomou

A dama que, bela, levou à porta:

Em camisa, frente ao fogo,

De ouro, os longos cabelos.

"Vede! Eis meu prêmio, minha esposa",

Disse a Artur sir Gawain.

"Dona Ragnell, Sir, é esta,

Que vossa vida salvou".






Vocês o que teriam preferido? ... o que teriam escolhido? A escolha de Gawain foi de sabedoria, devolveu a ela o poder de decisão.

É MUITO IMPORTANTE QUE SEJAM SINCEROS COM VOCÊS MESMOS.

Moral da história: Não importa se a mulher é bonita ou feia, no fundo, é sempre uma bruxa... Ela se transformará de acordo com a forma que você a tratar.

Isso é sapiência.

Para vocês homens aprenderem que a mulher só quer ser soberana em sua própria vida!

Compreenderam?

Entenderam?

Aprenderam?

Se conselho fosse bom, vendia-se, risos.

Sorria a vida é bela!

(a imagem abaixo, é uma adaptação, risos)




19 comentários:

Zininha disse...

Se a vida é bela...porque não sorrir...

Sorrir faz bem para a viver a vida mais levemente...

tem um selinho e uma poção mágica...hummm, será que vai gostar???Beijos.

Anônimo disse...

Bela história, Norma.
A mulher deve ter domínio de suas ações e escolhas, uma vez que o livre-arbítrio serve tanto ao homem quanto a mulher.
Deve existir harmonia, amor, cumplicidade e sobretudo, compreensão.
E eu lhe pergunto, se a história fôsse exatamente o contrário, o que a rainha iria optar em relação a seu esposo ? O dia, a noite, ou tb.lhe daria a opção de escolha? rsrs ( risos )
Acho, que, por ser mulher, ela saberia como agir com dignidade.E você?
Muitos beijos

angela disse...

A história é bem bonita e a lição que ela traz também.
beijos

Norma Villares disse...

Zizinha, oiê
Fica bem melhor, acreditando que a vida é bela...
Porque não sorrir...
Beijos com poções mágicas

Norma Villares disse...

REGINA oiê
É uma bela história, para fazer reflexão.
A mulher quer ser soberana pela própria vida dela.
Eu também daria a opção de escolha.
Abração

Norma Villares disse...

Angela, a história é linda mesmo.
Beijinhos

Ricardo e Regina Calmon disse...

Belo e intenso,Norma Miga Nossa,intensa e profunda!
Mulher :o início de tudo!

PAZ E BEM!

VIVA VIDA

A Magia da Noite disse...

perceber o senso feminino exige do homem a capacidade de sentir além da sua masculinidade.

Jorge disse...

Norma!!!

Belo conto!!!
Naturalmente devemos deixar na mão da mulher a decisão de ser da sua vida.
Qual de nós, homens, podemos dizer que somos mais que a mulher?
Nem o machista, no fundo do coração, iria dizer isso.

Norma, um doce beijo,

Jorge

Cris Tarcia disse...

Linda historia, faz pensar

Beijos

Norma Villares disse...

Olá Cris, uma bela história e os seres maduros poodem fazer uma grande reflexão.
Abraços

Norma Villares disse...

Jorge olá.
Belo conto, para fazer uma reflexão.
Com certeza essa eflexão é para os dois sexos. E os seres maduros poderão com coração aberto tomar resoluções de sabedoria.
Abraços

Norma Villares disse...

Ricardo que bom que voltou aqui, gostei muito.

Muito profundo essa reflexão trazida pelo conto.
E caminhando com reflexão e sabedoria poderemos nos tornar seres humanos maduros.
Abraços

Cachorro Louco disse...

Norma : A história é linda e traz uma lição verdadeira .Parabéns

Norma Villares disse...

Cachorro louco olá, que bom que apareceu novamente.
Realmente é boa para reflexão.
Grata
Um grande abraço

Viveka disse...

É um belo conto, para fazer reflexão.
A mulher quer ser soberana pela própria vida dela.
Se fosse eu, pediria tempo para fazer a reflexão, mas chegaria a conclusão que o melhor seria a escolha dele.
Namaste
Beijos

Norma Villares disse...

Oi Viveka, exatamente isso, você chegou a uma conclusão de sabedoria.
um grande abraço

As Dores do Silêncio disse...

Esse texto eu ja o conhecia, é de uma verdade sublime e encantadora.
Seu blog esta de parabéns é de um otimo gosto perfooo!
Tem muitas coisas aqui que me fez lembrar do meu tempo de educadora e qdo eu fiz estagio de psicologia.
Passei a ser frequentadora nata daqui
Otimo final de semana abençoado
Repleto de muita luz...
bjs
Soll

Norma Villares disse...

Esse texto é muito conhecido, mas sempre é bom lembrar e relembrar.
Grata pela presença nesse blog, um grande abraço

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