Sempre bate no peito uma saudade... Sempre dói sorrrateira, uma saudade... Sempre verto lágrimas por conta de uma saudade... E agora, falando em saudades, vou contar sobre o amor que se foi, sem nunca ter iniciado. Conto?! Sim, contarei:
Era uma linda manhã de sol que surgia como tantas outras, num simples início da semana - segunda-feira -, mas, naquele dia, algo instigava meu coração, preparando-me inconscientemente para receber o amor... Meus cabelos, meus olhos, meu riso, o meu corpo inteiro, até minhas roupas sentia a intensidade do amor que batia à porta, sem ser chamado, mas ansiosamente esperado.
E o meu coração palpitava...
E o meu coração pressentia...
Sabe gente, como um coração dentro de outro coração, batendo juntos, no mesmo compasso, na mesma harmonia. Era isso mesmo. Exatamente assim que eu sentia...
E assim eu pensava: É o amor voando livre na minha direção, com galhardão. Sentia o colorido e brilho dessa energia do amor, necessitando de um ninho seguro para assentar, prosear e serenizar a procura tão almejada.
Me aprontei e fui à Justiça do Trabalho realizar mais uma audiência, como de costume. Ao entrar na sala de audiências, estava displicente olhando a defesa e os documentos, e assim fiquei uns minutinhos...
Quando
suspendi o olhar, fitei os olhos serenos do Juiz que me olhava
insistentemente. Era um raio de luz fulminante que saia de seus olhos
e fazia pouso nos meus olhos, me pedindo permissão para receber aquele jato
de luz prenhe do mais puro amor... Era um convite ao amor. Era o caminho do coração. Nesse momento nada existia a não
ser o verdadeiro encontro dos olhos pressagiando a pura energia do amor
de almas antigas num verdadeiro reencontro. E o meu corpo dizia
baixinho, é o amor a primeira vista. Nada, nada desviava o nosso olhar que alongava na lembrança da vida passada, pois reconhecíamos-nos.
E a cada dose de silêncio, aprofundavámos nossos olhares amorosos que trocavámos, sem pedir licença num movimento de corações palpitantes. Até que chegou o momento da audiência, eu estava muito nervosa, mas ele manso e sereno ajudou-me em toda audiência.
Estavámos frente à frente e os nossos olhos dialogavam, e sorriam num brinde ao reencontro. Havia uma imensa alegria. E, se por acaso eu desviava o olhar, ele me procurava sedentemente e, assim reencontravámos novamente numa alegria sem igual. Eu me senti envergonhada, abaixava o olhar, pois eram muitos expectadores naquela pequenina sala de audiência, risos. Novamente ele estava procurando meus olhos.
Me lembrava daquela música de Tom Jobim na linda voz de Miucha e ouvia mentalmente:
Pela Luz dos Olhos Teus.
(Ela cantando)
Quando a luz dos olhos meus
E a luz dos olhos teus
Resolvem se encontrar
Ai, que bom que isso é meu Deus
Que frio que me dá o encontro desse olhar
Mas se a luz dos olhos teus
Resiste aos olhos meus
Só pra me provocar
Meu amor juro por Deus
Me sinto incendiar
Sim. Sim e Sim... Incendiava-me alma no amor mais puro que eu havia encontrado, eu sorria numa alegria nunca dantes sentida... Oh! Meu Deus como foi lindo esse encontro de olhar.
Me lembrava também do seminário de Roberto Crema que dizia: Olhe nos olhos e encontre o olhar. É melhor ficar vermelho de vez em quando, do que amarelo a vida inteira (risos).
E a audiência foi finalizada, sem existir qualquer outra palavra, e nos despedimos com a atenção usual de atos
solenes: Bom dia Excelência! E ele respondeu: Bom dia Doutora!
Seguimos nossos caminhos e um dia encontrei com ele no Shopping Barra, eu estava com meus dois filhos no parque, e ele com a esposa e filhos.
Nesse instante olhei em seus olhos indagando-o, ele abaixou seus olhos... E a compreensão se fez presente. E eu chorei sozinha... Silênciando um amor que findou, sem ter iniciado...
Chorei sozinha... Pelo menos chorei por um amor...
Eu compreendi, tinha chegado tarde na vida dele...
E segui sozinha... Somente saudades... Saudades... E como tem um ditado: Quem canta seus males espanta. Vamos cantar um pouco...
Somos exatamente o que o digníssimo disse:"uma suma de não-eus sintetizados num eu postiço." e isso sintetiza a diversidade nos atos humanos e suas alternâncias como forma de aprendizado futuro.
Não podemos afirmar aquilo que não conhecemos,ou seja,isto a que compomos.
Sejamos ao menos consentâneos com esta realidade...difícil...Impossível?